Escrevo-te para um dia, quando as memórias se enevoarem, te lembres porque te amei e caminhei tão próximo de ti que o teu respirar ecoava na minha boca...
Amei-te para viver contigo a leveza da vida, acompanhar-te nos prazeres a que nenhum de nós se escusa, na alma hedonista e libertina que nos colou ao mesmo caminho.
Amei-te para caminharmos ao som de Bach, mas também para manter o passo quando a vida que nos derrama num conjunto dissonante de notas, espalhadas por uma pauta escrita na desarmonia da dor.
Te digo. Qualquer que seja a música ou o caminho, enquanto os nossos passos forem assim, sincopados, ajustados um ao outro, amorosos e salpicados de saltos de júbilo, caminharei contigo...
Se uma cor me servisse como sapato perdido depois do baile, era o vermelho. Aquele tom da flor aprisionada no celofane, em molhos de afetos desajeitados, kitsch, de historieta de cordel.
Também aqueloutro, o da luz sanguínea lançada pela echarpe sobre o candeeiro, abat jour de filme de terceira, alongando a noite até à madrugada.
E a cor que me precede a nudez, na roupa que largo em salpicos vibrantes pelo chão, delicia de voyeur... E logo os beijos, que caem como cerejas, húmidos como bagos de romã, rolando pelo corpo até pararem num qualquer sítio já suado.
Ou as paredes nas tardes de motel, na pressa do sexo, que a taxa dobra e nada basta, nada chega para tanta cegueira por prazer, que vermelho é cor de fogo, de ânsia, cor de urgência, cor de agora-ou-nunca...
...mas hoje, não. Hoje sou só uma mulher exausta de tanto querer, tanto amor e desamor, esvaída por esses corpos, deitada à luz num campo de papoilas.
Elisabeth Barret Browning escreveu Sonnets from the Portuguese nos primeiros tempos de enamoramento com o que, após alguns reveses e um casamento secreto, se tornaria seu marido, Robert Browning. A obra foi publicada em 1850, mas o arrojo apaixonado de alguns poemas levou Elisabeth a apresentar a obra como uma tradução de poemas portugueses.
Há diversas explicações para escolha do título mas "My little portuguese" ser o petit nom que o marido lhe dava é o mais provável. Robert apelidava assim Elisabeth pela sua tez morena, que achava semelhante à portuguesa.
Elizabeth Barret Browning (Licença Creative Commons)
Judi Dench cresceu ouvindo o seu pai a recitar e ela própria é uma extraordinária diseuse e amante de poesia, além da atriz que conhecemos tão bem. A cena do filme Skyfall, em que Judi recita o final de Ulisses, de Tennyson... é linda!
A atriz diz memorizar um poema por dia de forma a manter um cérebo ativo e uma mente jovem, o que me parece excelente e agradável receita.
Reunem-se no vídeo estas duas mulheres fantásticas, através da leitura de um dos mais conhecidos
poemas de Elisabeth Browning, o soneto 43 de Sonnets from the Portuguese, que aqui fica também por escrito.
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day’s
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right;
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood’s faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,