Resistir, viver e criar em tempos de grilhetas e estranheza.
Sonhar e fazer crescer, por mais que teimem em nos segurar o sopro e salgar o chão dos dias...
Resistir, viver e criar em tempos de grilhetas e estranheza.
Sonhar e fazer crescer, por mais que teimem em nos segurar o sopro e salgar o chão dos dias...
Os resultados eleitorais demonstram o fraco conhecimento que se tem da história, o poder do voto do ódio e a polarização crescente que toma conta do mundo.
Há alturas em que sentimos que não fazemos parte desta sociedade porque estamos sós, porque não nos enquadramos e vivemos em perpétuo fingimento, porque achamos que ninguém nos quer ouvir.
Já passei por todas essas fases, como qualquer ser pensante.
Mas neste momento, o mundo cada vez me repugna mais.
E se lamento ter lançado a ele seres humanos que terão que chafurdar nesta merda, resta-me o consolo de terem as qualidades para o tornar um pouco melhor.
Seres humanos compassivos, que não descriminam o outro pela religião, etnia ou escolha sexual.
Seres que não acreditam na meritocracia e que assumem o seu papel contribuindo para ajudar os que têm menos oportunidades e recursos.
Neste momento até agradeço o confinamento.
Vou para casa. Já que me colocaram de férias... é do mundo que desprezo que tiro férias também.
Vou pintar, escrever, falar com os pássaros.
Avisá-los quando se aproxima o milhafre que por lá anda.
Ver a terra que dorme, a ganhar forças para a Primavera.
Fiz uma paella fantástica que depois digeri no Continente, correndo pelos corredores a ver se batia recorde do tempo que lá passo. Levei duas máscaras, dizem que agora é trendy contra o vírus inglês...
Era bom que as compras dessem para duas semanas, mas não acredito, estes fulanos comem que se fartam.
Agora é que me arrependo de ter ofertado a arca frigorífica à ex-sogra. Fazia-me falta. E a sogra também, sempre me fazia uns almoços.
Fui buscar o filho mais velho ao trabalho para não andar no comboio. Mentira, a verdade é que a essa hora já estava outra vez farta de estar em casa.
Respondi ao mail de uns alunos que perguntavam que, já que as aulas são proibidas, se eu podia "dar workshops de História da Cultura e das Artes on-line". Parabenizei-os pela criatividade nas adiei os encontros sine die.
Passei à fase de me mimar: um gin com pepino e pimenta, como eu gosto, e uns livros que me inspirem a dizer palavrões.
Inspirado pelas caixinhas de lápis Viarco, é aqui que encontram o desafio "vamos pintar com palavras", lançado pela Fátima. Ora, para começar, o azul...
Nascida de um sonho, é uma proposta de revista de bolso, coletânea de textos em jeito de memoir.
Comecei pelo texto da Claudia Lucas Chéu, a escritora desta coletânea que melhor conheço.
Ora, a Cláudia LC falando do impacto da literatura na sua sexualidade, só podia resultar na delícia de texto que ocupou, em luxúria, algumas das mais belas páginas da revista.
Sigo, entre a poesia de João Pedro Azul, o diário de viagem de João Sousa Cardoso, a experiência sobre ser um ciclista na cidade, de Nuno Catarino. E a história da Seara, que um edifício também pode ser gente.
Tinha que acabar a leitura, foi a minha companhia hoje entre aulas. É um projeto que vale a pena conhecer!
Como fundo, a textura de uma sala de aula, que o dinheiro não chega para tudo, coitadinhos dos banqueiros, temos que os salvar. E a Parque Escolar faliu entre projetos egóticos e candeeiros do Siza.
*Editado a pedido:
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